Cada Dia Mais Perto

Na verdade, com meus poucos grandes amigos (sempre os tive), conseguia ficar feliz; meus defeitos pareciam apenas pequenas distrações comparados à naturalidade e à facilidade da vida. Entretanto, meu sorriso era sufocante. Minha mente estava tomada por um carrossel dissonante de palavras que rodopiava constantemente em torno de humores e aromas, só ocasionalmente sendo convertido em minha voz ou em meus escritos. Eu não era muito boa quando se tratava de fatos.

 

Cada Dia Mais Perto, Irvin D. Yalom, Ginny Elkin.

bêbados habilidosos

Derramei o meu pranto
na pia do banheiro
Dei um gole de whisky pro santo
o resto eu dei pra mim mesmo
Garçom me dá mais uma dose
dessa cahcaça aí pra mim
Que eu sou o rei da dor!
Eu sou um perdedor…

A minha vida tá se apagando
como um cigarro esquecido num cinzeiro
Meu contra-cheque vive me lembrando
que eu preciso, muito, de dinheiro
Oohh baby, Oh baby
eu sonho ver você voltando
entrando por aquela porta
Mas agora Inês é morta…
Você tão longe de mim
E eu tão perto desse gim…

SOBRE CARTAS RESPONDIDAS

SOBRE CARTAS RESPONDIDAS: compartilho aqui algo que precisava ler e, felizmente, li.

“Cara Anitta,

Era uma vez um rapaz que resolveu ir a uma festa para esquecer uma recente paixão. Ao chegar lá, ele conheceu outra moça e, na mesma noite, declarou-se a ela. Em menos de uma semana, eles se casaram, transaram uma única vez e se mataram. Para ser mais preciso, em apenas quatro dias. Pode até não parecer, mas acabo de lhe contar, de modo bastante realista, o enredo de Romeu e Julieta. Aquela que, para muitos, ainda hoje, é a maior história de amor de todos os tempos.

Desde o início deste projeto, nunca recebi uma carta tão consciente e lúcida quanto a que você me escreveu. Na verdade, tudo o que você procura está nela, entre uma palavra e outra. Ao se autodefinir com tanta honestidade como uma exagerada, você demonstra ter plena consciência do enorme abismo que há entre o amor clássico e o romântico. Ou seja, entre o que é genuíno e o que é inventado, como você mesma colocou.

Sinto muito pelo que lhe aconteceu, minha cara. Ficou claro para mim que, apesar de sempre ter apostado no ideal romântico, desta vez, você procurou um amor possível. Aquele que costuma nascer de uma parceria concreta, e não de uma mudança de status no Facebook. No entanto, ao que tudo indica, o homem pelo qual você criou algo está atrás do produto final. Em vez de fabricar a própria verdade, ele prefere comprá-la pronta.

Em resposta ao que você me perguntou, devo lhe dizer que eu ainda acredito na existência do amor real, sim. Porém, estou certo de que ele se encontra bem longe da idealização e da perfeição, como já disse aqui antes. Não se trata de um impulso ou algo sobrenatural. “Eu nunca mais vou respirar se você não me notar”, diz a música. “Eu posso até morrer de fome se você não me amar.” Para mim, isso é loucura, e só gera ansiedade e sofrimento.

Por favor, não me veja como um amargurado, Anitta. É justamente o contrário. Estou convencido de que há um ponto de equilíbrio entre o amor clássico e o ideal romântico. Não desista de encontrá-lo. Entretanto, você há de concordar que, desde Shakespeare, a nossa balança anda um pouco desregulada, não é mesmo? O que me incomoda, portanto, de forma alguma é a exaltação da arte, mas a negação da vida.

Um grande abraço,

Estranho”

Para conhecer esse Estranho maravilhoso, acesse http://www.caroestranho.com

Formas de Voltar para Casa

“Agora penso que o melhor que fiz nestes anos foi beber muitíssima cerveja e reler alguns livros com devoção, com estranha fidelidade, como se neles pulsasse algo próprio, uma pista sobre o destino. De resto, ler morosamente, ficar deitado na cama por longas horas sem solucionar nunca a ardência nos olhos, é a desculpa perfeita para esperar a chegada da noite. E é isso que espero, nada mais: que a noite chegue logo.”

Alejandro Zambra, no livro Formas de Voltar para Casa.